quinta-feira, 21 de agosto de 2014

QUANDO APRENDEMOS A VOAR


Há um bom tempo comecei uma viagem, não fui eu quem a programou, mas segui e embarquei nesse trem. Nos primeiros momentos era tudo maravilhoso, não tinham muitas preocupações ou responsabilidades, não precisava me preocupar com o dinheiro, só aproveitava tudo o que essa viagem podia me proporcionar. Não foi assim por muito tempo, em algum momento algumas responsabilidades me foram conferidas, outras preocupações pesaram e então, hora de apertar um pouco o cinto! Nesse trem conheci pessoas maravilhosas e que estiveram ao meu lado por um longo tempo. Não consigo me lembrar quando foi que essa viagem começou a me cansar, mas comecei sentindo um incômodo com a poltrona, e foi então que senti minha postura mudar. De repente passei a achar o vagão pequeno e algumas pessoas que estavam lá começaram a me parecer indiferentes. Havia algo de muito estranho acontecendo comigo. Em alguns momentos da viagem, enquanto observava aquelas pessoas, percebi alguns casais se separando com a partida, e outros, se aconchegando com a chegada; filhos deixando seus pais e indo para o próximo vagão, outros, desembarcando em alguma estação, alguns seguindo sonhos e projetos para talvez voltarem um dia, ou não; vi também, ao observar pela janela, paisagens lindas, belas montanhas, e em alguns trechos, praias belíssimas; vi acontecimentos ruins, de violência e perdas, de desastres sentimentais e naturais também; vi tantas coisas que, em algum momento, me cansei de registrá-las em fotografias ou em letras, então, passei a guardá-las apenas na memória, em lembranças. Comecei então a observar a todos que estavam no vagão comigo, e alguns tão constantes em tudo, e outros que foram tão próximos e amados um dia, e, tragicamente, se tornaram o pior tipo de estranho, aquele que um dia tanto conhecemos.
Foi então que decidi mudar de vagão, fui para outro com uma poltrona mais confortável, até mesmo por que o tempo foi passado e minha juventude já não era a mesma. Me acomodei deliciosamente nela, e observei que a passagem que ligava o atual vagão ao anterior permanecia aberta, o que me permitia transitar sempre que preciso para rever aquelas pessoas que, por alguma razão decidiram continuar no mesmo vagão, e também reviver algumas lembranças. Outras, desceram em uma estação, a estação da eternidade. Mas meu vagão era outro agora, e, curiosamente observei que existiam outras pessoas comigo nesse vagão, algumas delas estiveram sempre comigo, em todos os vagões pelos quais passei, e outras eram rostos novos, diferentes, mas muito agradáveis e que tornaram essa viagem bem mais leve. Como no outro vagão, as paisagens eram as mesmas, e o que via lá fora, muitas vezes se repetiu, mas o ambiente era outro, os pensamentos, e os sonhos também. 
Nesse vagão passei por muitas coisas, perdi muitas outras, machuquei algumas pessoas e também fui ferida, ganhei incontáveis experiências e lições, acho que ensinei também em algum momento, aprendi que nem sempre (e quase nunca) as coisas acontecem como planejamos. Sofri desilusões, amei sozinha, doei mais do que podia doar, então fiquei sem algumas coisas. Sorri demais e também chorei, fiz outros sorrirem também. Gastei muitos lápis escrevendo histórias bonitas que gostaria que fossem minhas, mas eram de outros.
Até que chegou o dia. O dia em que novamente passei a não caber mais naquele vagão. Foi então que olhei adiante, para o próximo, e tive medo do que vi. Vi um vagão sem poltronas e também sem teto, e pensei comigo: é muito perigoso! Ali posso me molhar, perder o equilíbrio, e quem sabe cair! Não, ali eu não consigo! É assim quando surgem alguns novos desafios na nossa vida, algum novo vagão que surge no nosso trem. 
Foi quando ouvi uma voz que me disse: não filha, eu não vou te deixar cair. Talvez permita que você tropece algumas vezes, mas vai ser para que você aprenda a se equilibrar; talvez eu deixe que a chuva molhe você, mas é para que você aprenda valorizar os dias de sol, e, quem sabe até a sentir frio, mas, cair? Não... não vou deixar. É lá que vou te ensinar a voar. 
​Foi assim que aprendi que nessa viagem não estamos sozinhos. Quem opera esse trem, jamais nos deixará desistir e estará conosco para sempre, até a consumação dos séculos! 

Beeejo!