Quando a gente passa dos 30, algumas coisas começam a fazer
sentido, outras, a perder o sentido que tinha. Passamos a valorizar mais
algumas coisas bobas que antes eram só pequenos detalhes, na mesma proporção
que largamos mão de dar aquela atenção à coisas desimportantes.
Há quem pense que aquelas mudanças dos 30 anos seja mito. Eu
comprovo de todas as formas que não. Sou uma prova viva da força que esses dois
numerais exercem na vida de alguém, especialmente de uma mulher, como essa que
vos escreve.
Fases, todos têm e passam por elas. O processo de transição
varia de acordo com cada temperamento, com a intensidade de cada um. Eu, fui
'escolhida' a dedo com um temperamento, como a palavra sugere, bem temperado.
Além de paraibana, filha de sertanejos, brava ou valente - como assim
preferirem - e, intensa no mais intenso dos sentidos. (salve a redundância!)
Há aqueles que acreditam em signos e dizem que
"terríveis e intensos" são aqueles que nascem em novembro, os
chamados "escorpianos". Particularmente, não acredito e nem me prendo
a nada relacionado, mas dizem que essas pessoas são terríveis com relação à
intensidade. Pura coincidência, digamos.
Coloco o coração em tudo, a alma vai por completo e despejo
sem dó, sem medo de ficar vazia, de doar tudo. Muitas vezes, o impacto de
algumas situações geram o vazio e caio em mim me dando conta de que coloquei
demais ali, alma e coração, e fiquei quase sem nada. Não que me arrependa, eu sou assim.
Coloco o coração em tudo. Aposto todas as minhas forças e
até a última moeda, mas também em muitas vezes, volto cheia. Cheia de
satisfação, força e uma alegria que inunda tudo.
Falando em fases, e fazendo uma retrospectiva, apesar de não
ser muito fã delas, às vezes é bom relembrar. Relembrar o que passou nos faz
lamentar muita coisa feita, e muitas que deixamos de fazer. Mas sinto que
preciso relembrar algumas coisas aqui, reaprender outras ali, aprender aqui, e
por aí vai. Quem nunca aprendeu com uma situação que passou? O aprendizado é
inevitável, e muitas das vezes, não programado.
Ninguém marca na sua agenda assim: "Quinta-feira, dia
10 de janeiro às 10h, farei uma prova difícil, pois não tenho estudado como
deveria. Farei uma péssima prova, minha nota será uma lástima. Mas com isso
aprenderei que preciso estudar mais.", ou "Em julho de 2015
terminarei o meu casamento. Amo meu cônjuge, mas foram 3 anos em que poderia
ter investido mais, dialogado mais, conversado mais. Mas não fiz. Mas quem sabe
um dia ele (a) me perdoe por não ter tentado."
Ninguém se programa dessa forma, não já pensando no pior.
Ninguém espera aprender da pior forma. O aprendizado trata-se de um processo
natural, mas quando paramos e analisamos a nossa vida, inclusive o que já
passou, nos damos conta de que há muito o que precisa ser feito, e, muitas
vezes, há muito que precisa ser mudado.
Mudar não é feio. Mudar de opinião não é feio. Se não me
falhe a memória foi Pascal quem disse que "só muda de opinião quem
pensa". Não vou mentir, mudo algumas vezes de opinião, não é algo
frequente, mas depois dos 30 mudei muitas vezes mais.
Antes de chegarem esses benditos 30 anos, passei por fases
variadas. Uma delas foi a fase da irritação, onde tudo me irritava, e isso
durou muito tempo a ponto de, para os 'de fora', parecer fazer parte do meu
temperamento. Me irritava a pessoa falar me tocando; em uma conversa, me chamar
a atenção para o assunto mais de duas vezes; me irritava um indivíduo sinalizar
aspas com as mãos (sabe como é?); me irritava a pessoa mexer no celular
enquanto conversava comigo; me irritavam tantas coisas, que, até a pessoa não
se irritar com nada, me irritava. Quanta irritação!!!
A fase da explosão. Sim, explodia com tudo; brigava com
todos e por tudo. Assumia a causa dos outros e brigava também no lugar deles,
quando esses não queriam brigar. Aí veio o estigma brigona.
A fase da lamentação. Lamentar tudo o que não deu certo,
tudo o que não tentei, tudo o que não falei... e bla bla bla. Esta,
sinceramente, foi a mais chata de todas.
E por falar em chatice, também teve essa fase. Há quem pense
que estou nela até hoje, mas, faz parte, acho bem possível que um pouco de cada
fase tenha ficado, mesmo que um tiquinho. Na fase chata, da chatice, tudo era
chato. As pessoas, a rotina, as conversas, o trabalho, os estudos, inclusive
eu, a mais chata de todos e tudo junto. Uma TPM sem fim!
Tiveram muitas fases, mas se aproximando os 30, houve a fase
que mais durou: a fase da preguiça. Não aquela preguiça física de lavar uma
louça, arrumar um guarda-roupas, organizar prateleira. Essa preguiça dura até
hoje, e não é fase. A fase é de se sentir preguiça de situações e pessoas.
Nesta, entra de quebra a fase da irritação. Você sente preguiça de ouvir sempre
as mesmas lamentações, as mesmas reclamações. Sente preguiça de ouvir pessoas
que não saem da mesma situação há anos; preguiça de ver algumas se apoderarem
do sofrimento como se fosse um filho ou um bicho de estimação; preguiça de ver
as pessoas reclamarem de situações que elas mesmas permitem... enfim. Preguiça.
Só que essa fase é cruel, pois, além de agrupar a fase da irritação, entra
também a fase da chatice, pois não há como sentir preguiça de pessoas e
situações, sem externar uma chatice cretina!
Que fases! Passei por cada uma delas e hoje só de lembrar
tenho vontade de me bater, imagine os santos que tiveram que conviver comigo em
todas elas. Deus seja louvado pela maior e melhor de todas as criações: a
família! (muitos risos)
Mas o aprendizado também, em cada uma dessas fases, é
impressionante. Pensamos inclusive em como podíamos ter nos preocupado ou nos
estressado com coisas tão desimportantes? E é exatamente este o sentido,
aprender.
Como seria a vida se não pudéssemos extrair experiência de
situações pelas quais passamos? Faria sentido enfrentar uma perda sem aprender
com os erros? Faria sentido abrir mão de algo importante sem ao menos aprender
como poderia ter sido diferente, se tivéssemos agido de outra forma? Ou tentado
mais uma vez?
Não. Não faria sentido algum. A verdade é que, para cada
situação, há um tipo de aprendizado. E posso te assegurar com propriedade que
aprendi demais nessas três décadas, alguns anos (até mesmo por que não sou
obrigada a dizer quantos anos né? Hum!) e incontáveis fases.
Não sei o que Deus e a vida me reservam para os próximos
anos, mas posso te assegurar que hoje, depois de passar por tantas coisas boas,
e muitas ruins também, aprendi muito com a vida. Aprendi muito com as atitudes
que tive e não me fizeram viver bons resultados, com aquelas que me levaram a
conquistar coisas boas, com as perdas, com as conquistas, com os SIM's e
inclusive com os NÂO's que a vida me deu. Com tudo o que Deus me permitiu viver
e desfrutar. Com tudo que, dando certo ou não no final, me fizeram ver a vida
de outra forma; me fizeram amar mais as coisas simples e a me cobrar menos, e, também,
exigir menos das pessoas; me ensinaram a valorizar mais uma pequena corrida ao
ar livre, uma brincadeira inocente dos meus sobrinhos, o esforço meio
desajeitado dos meus pais a me dizerem - da forma deles - o quanto me amam; a
amar mais as pessoas e a aceitá-las da forma que elas são, mesmo sendo difícil
aceitar algumas formas, mas entendendo que elas também me amam do jeito que
sou; aprendi a perdoar mais e a ser mais tolerante, mesmo tendo sido com dores
de parto.
E tudo isso me levou a viver melhor. A viver intensamente
cada instante.
Minha gente, viver é muito bom, e a vida? Muito curta aos
nossos olhos.
Desejo do fundo do coração que: se você tem menos de 30, não
espere para aprender com suas fases, e, se você tem mais, viva intensamente
cada minuto da sua vida e seja feliz!
Vamos abraçar mais, amar mais, perdoar mais, expressar mais
os sentimentos, tentar mais, tentar uma vez mais, e outra vez mais, viajar
mais, curtir mais e sorrir mais!
Ser feliz é tudo de bom, com Jesus então, a alegria é completa!
Seja feliz em tudo!
Beeeejo
Soninha Nobre