segunda-feira, 24 de outubro de 2016

SEJA QUEM VOCÊ QUISER

Não quero que classifiquem este artigo como manifestação feminista, quando infelizmente a maioria das pessoas hoje acham que feminismo é o antônimo de machismo e ainda misturam com uma dose de sexismo, levam ao forno pré-aquecido a 1000° e saem com um bolo horroroso que não desce nem à base de soda cáustica.
Bem... Let's go!
Vez ou outra me pego pensando no padrão que alguns homens estabeleceram para descrever a  mulher dos sonhos, ou dos desejos, que seja, enfim. É natural que uma mulher solteira pense nisso, e acredite, na maioria das vezes são dezenas de pessoas (mãe, tios, amigos, etc) que pensam por elas, mulheres.
A questão é a forma assustadora dos padrões impostos por aí: ela tem que ser inteligente, ter estudado ou estudar muito, uma posição estável na vida profissional, ser independente financeiramente, um corpo razoavelmente bonito, não precisa ter muitos amigos e não importa se sabe cozinhar, mas é indispensável que conheça bons lugares para se comer, que seja uma pessoa com vasto conhecimento sobre quase todos os temas da atualidade, seja politizada, goste de filmes e já tenha assistido ao menos umas 20 séries. (É óbvio que não é uma regra, mero exemplo)
A realidade é que preencher os quesitos do quase infinito check list é quase impossível, e, se possível, extremamente cansativo ao ponto de não restar tempo e nem disposição para se apaixonar. Afinal de contas, a última coisa que essa super mulher assustadora que preenche a todos os requisitos desse padrão precisa é se apaixonar e consequentemente se relacionar, quando ela, com toda essas qualificações pode dominar o mundo! Não é mesmo?
Vocês já pararam para pensar o quão exaustivo pode ser para uma garota percorrer todo esse caminho para chegar ao topo e enfim suprir as expectativas das pessoas? Ter que possuir incontáveis qualificações, além de ser independente, usar seu dinheiro como bem entender, seja com roupas caras, boas viagens, ter seu próprio carro e entender basicamente de tudo um pouco. Fica um apelo: Não façam isso com suas filhas, é cruel!
Poderia escrever voltado para todos os gêneros, até mesmo porque essa tortura de padrões não é um privilégio das mulheres, mas é sobre elas que quero escrever, pois sou uma delas, e daquela parcela que não faço a mínima ideia se pequena ou não, mas que não suporta mais que a enquadre nesses moldes patéticos.
Antes que pensem o contrário, este não é um discurso inflamado contra os homens, longe de mim! É contra a sociedade que criou essas expectativas ao nosso respeito. Ok, homens?
Não vou listar quais os quesitos que já preenchi desse check list, até mesmo porque estou longe de preenchê-los, graças a Deus. Mas acredite, já senti na pele o peso de não saber desossar um frango, de estar solteira aos quase 35, de não ter concluído uma graduação que todos esperavam que eu concluísse, e de não ter suprido as expectativa de muitos. Isso mesmo, como se não bastasse tudo isso, há que se ter a preocupação do que as pessoas esperam de nós. 
Ok, não se engane, essa história de "padrões" pode ficar ainda mais chata. Isso mesmo, sabe por quê? Por que em algum momento da história, alguém disse que nós mulheres precisamos demonstrar fragilidade. Que nós devemos ser mais delicadas, não podemos falar bobagens, que é arriscado dirigir sozinha por aí, enfim, acredite, isso ainda existe e é mais chato do que parece aqui no texto.
Mas para que não fique chata também a leitura, quero dizer a alguns familiares e amigos que tenho um pedido de desculpas a fazer:
Lamento gostar mais de praticar um esporte do que passar tempo em salões de beleza (longe de ser uma crítica, NÃO É!); lamento não preencher os requisitos básicos dos padrões de beleza; lamento não ter o diploma que vocês esperavam emoldurado em uma parede; lamento gostar mais de ler um livro ou ver um filme ao invés de sair à caça, à luta, e conhecer novas pessoas para possíveis relacionamentos, quando muitos dizem que estou esperando a pessoa bater à minha porta e que trancada em casa não vou 'conseguir' nada; lamento não fazê-los "superar" as expectativas ao meu respeito; 
Mulheres, sejam quem vocês quiserem ser, sem rótulos, sem padrões, sejam vocês;
Homens, sejam seguros o bastante para se apaixonar, amar e estar ao lado de uma mulher que gosta de ser quem ela quer ser. 
E todos, aceitem as pessoas como elas desejam ser, gostando de estar paradas ou sabendo voar.
E quanto aos padrões? Parem com isso! Só parem! Parem de pressionar as pessoas por resultados, por números, por degraus, por publicações em diário oficial, por diplomas, por histórias de amor, por casamentos, por filhos, por carreiras de sucesso. Parem. Só!
Entendido?
Beeejo

terça-feira, 4 de outubro de 2016

SOBRE SAUDADE...

6h da manhã, ao abrir os olhos avisto diretamente a luminária, e desperto. Estou em um grupo raro de pessoas que despertam logo ao acordar. Sim, há uma diferença entre acordar e despertar.
Amanheci com a sensação de coração inchado, de sufocamento, mas não tão ruim assim.
Uma dor.
Dor de saudade.
Há tanta saudade guardada aqui dentro, que talvez já fosse tempo mesmo de transbordar, por isso esse aperto. Saudade do cheiro e cuidado do meu avô, daquela voz que exclamava toda vez que me via: "Oi minha beleza!". Essa falta nada preenche; saudade dos amigos da infância, ao ver ou ter notícias da evolução de suas vidas; saudade dos tempos de criança, dos lugares em que vivi, da leveza de tudo; saudade da velha coleção de papéis de carta, perfumados e lindos! Muita saudade; saudade de não ter responsabilidade, de não ter compromissos e obrigações; saudade da euforia das roupas novas para as festas de finais de ano; saudade da compra de materiais escolar para o início de mais um ano letivo. Lembro como se fosse hoje a alegria da primeira vez em que usei um "caderno de matérias"; saudade da sensação gostosa de quando me apaixonei pela primeira vez, mesmo que hoje olhe para a pessoa e pense: "Meu Deus, como pude?". Há mágica nas coisas que vivemos na inocência.
Pausa para um longo suspiro.
São tantas saudades que fica quase impossível listar. Eu mesma já escrevi tantas vezes sobre ela, ja compartilhei textos de Martha Medeiros sobre isso, e por aí vai. Há tanta saudade que há e sempre haverá muito o que dizer, o que se escrever.
A verdade é que grande parte da nossa história é composta de saudades. E isso não é tão ruim. Saudade é o que resta daquilo que não ficou.
Saudade boa é saudade do que, mesmo não tendo ficado, foi curado. Sabe como é? Aquela saudade da infância que passou, dos cheiros, brincadeiras, lugares. Aquilo que passa naturalmente com o tempo.
E a saudade ruim? Infelizmente não temos como evitar. É a saudade que ainda dói, a perda definitiva. Sabe muito bem quão dolorida ela é, quem já perdeu alguém que se ama para a eternidade. Essa dói até pra se escrever. Pense e chore aí comigo (sim, não é feio nem errado chorar de saudade), reflita no quão duro é nunca mais sentir o cheiro, os abraços e ver os sorrisos. Tudo isso passa a ser possível só quando fechamos os olhos e lembramos os momentos que vivemos juntos.
É saudade ruim também, do que permanece em vida mas que não ficou na nossa vida. Exatamente assim. Tudo o que deixamos pra lá, deixamos passar, deixamos findar.
Saudade do que foi e nunca mais será, e que, infelizmente não podemos deixar de sentir.
Alguns tipos de saudade passam (graças a Deus!), mesmo que durem muito. E outras, sempre existirão.
Entre o passar e o não passar, nos restam as lembranças e a vontade de fazer com que algumas coisas permaneçam para sempre em nossas vidas, garantindo assim, que outras saudades não venham a existir.
O dia continua, e com um presente lindo que é a chuva, e sigo com minhas atividades normais, com menos aperto do que mais cedo, pois há coisas que só saem da gente por escrito, e isso alivia, mesmo que seja só a saudade!

Feliz 4 de outubro chuvoso, gente!