O começo.
Com a cabeça “fresquinha”, pois minha corrida foi ontem, resolvi escrever e deixar meu depoimento acerca do desafio vencido. Talvez, ajude alguem ou motive aqueles que nunca fizeram uma prova desta, mas pensam um dia fazer. Antes, alerto: apenas transcrevo minha experiencia, uma vez que não sou especialista emnada, sou apenas um curioso aprendiz de 54 anos.
Há exatamente 11 meses atrás comecei a praticar o Triathlon, convidado ou induzido, não sei, por um amigo, o Dudu, que também nunca havia feito este esporte. Fiz alguns Shorts (750 mts natação, 20km Bike e 5 km corrida) e depois fiz um Olimpico (1500 natação, 40km bike e 10km de corrida). Resolvi testar meus limites e inscrever-me na prova do Endurance, aqui em Brasilia, que são exatamente as medidas do famoso Triathlon 70,3 ou 1/2 Ironman, cuja distancias são: 1900 mts natação, 90km de bike e 21km de corrida.
O preparo.
Depois de inscrito, faltando pouco mais de dois meses para a prova, intensifiquei (disse intensifiquei e não comecei) meus treinos. Tres horas por dia. É aqui que se exige uma boa orientação (nutrição e assessoria esportiva), foco, força e fé. Os treinos, normalmente, são mais difíceis e enfadonhos do que propriamente a competição. Eles precisam ser diários e muitas vezes sem local adequado para se treinar, principalmente o ciclismo. O dia da prova é diferente, tudo organizado. Quanto aos resultados, eles virão como reflexos de seus treinos, e de como seguiu a planilha, mas uma coisa é certa: Todos que conseguem terminar uma prova desta são, certamente, vencedores, venceram limites.
Faltando dez dias para a prova, comecei a diminuir a intensidade de meus treinamentos para poder descansar os músculos e estar em boas condições. Devo deixar registrado que, também, dediquei atenção especial a alimentação. Alguem disse, com muita propriedade, que um triáthlon não é dividido apenas em três modalidades, mas em quatro: NATAÇÃO, CICLISMO, CORRIDA E NUTRIÇÃO.
A grosso modo, diria que evitei gorduras, pois ela em excesso podem limitar a capacidade de esforço no dia da prova e ingeri muito carboidrato (não em quantidade, mas na periodicidade - a cada duas horas). Nestes dias não se pode preocupar em ganhar um pouco de peso, porque o mais importante é acumular a energia no carboidrato, que é a principal fonte utilizada neste tipo de prova. E, claro, muito liquido. Sempre andava com uma garrafinha de agua e quando pudia descansava com as pernas para cima, que faz parte do treino.
A véspera da prova.
Chegando a noite, da véspera da prova, organizei tudo, meticulosamente. Tudo separado, por modalidade, cada coisa em seu devido lugar. Mesmo assim, fiquei muito ansioso. Sempre parece que esta faltando alguma coisa, mas também estava nervoso pela expectativa do novo, da inexperiência, afinal nunca havia feito nenhuma prova que chegasse perto das distancias que teria de percorrer no outro dia.
Não tem como não deixar de pensar no esforço aeróbico contínuo por mais de cinco horas que deveria me submeter. Realmente isto trazia-me ansiedade. Por outro lado, devo dizer que havia muito “auto confiança”. Havia treinado bastante e sabia que nunca estivera em uma fase física tão boa, mesmo que tenha acontecido aos 54 anos.
E quando chegou a hora de dormir..... hum (vixi).... Como dizia um colega: “ - Durma bem na anti-véspera da prova, porque na véspera ninguém dorme”.
O dia da prova.
Coloquei o despertador para tocar as 4:45 (a largada seria as 07 hs), no entanto as três e meia acordei e não conseguia mais dormir. Fiquei deitado, bebendo agua e aproveitando para descansar o corpo e recapitulando tudo que deveria fazer nas próximas horas. Finalmente chegou a hora, levantei-me para tomar meu café (2,5 horas antes da prova) com aproximadamente 800 calorias, uma vez que iria precisar de 7000 calorias na prova.
Chegando ao local, vc já entra em clima diferente, um calafrio gostoso – admito! Vê amigos, equipamentos e uma galera muito sarada e, normalmente, com bons hábitos. E tudo pronto para a largada.... quer dizer, nem sempre esta tudo pronto, pra todo mundo, basta dar uma chegada ao banheiro. Ali é um dos raros lugares no mundo onde se vê uma longa fila para se usar o vaso no sanitário masculino. Antes da largada é um local muito concorrido por conta da adrenalina.
A Largada – NATAÇÃO.
As 6:45 mergulhei, com a temperatura de 16º, nas aguas do Lago Paranoá, para um breve aquecimento. Com roupa de neoprene, não senti frio. Poucos minutos depois das 07 horas foi dada a largada. Decidi largar no meio do bolo..... na verdade mais parecido com um cardume. Ali, no meio, é um lugar onde voce apanha e bate, sem intenção, claro! Neste momento seu nado não rende porque esta tudo apertado, sem espaço. É hora também de tentar se proteger, cada um tenta achar seu espaço. Por isto não dá para dar braçadas longas, o que só acontece depois da primeira boia. Dali em diante tudo começa a se encaixar, fica bem melhor. A natação em aguas abertas tem sido a dificuldade de muitos atletas. Alguns não se sentem bem, tem pânico, talvez por ser local aberto e profundo. A sugestão que dou é procurar não pensar no que pode dar errado, isto só piora. Ao contrário, pense em fazer uma boa prova, curtir e aproveitar cada momento. Eu, particularmente, não fico pensando no que pode dar errado, mas olho para o sol, para as aguas, vejo até as pessoas que estão as margens. Na verdade tento deliciar-me daquele momento sem perder o foco. Este é o único momento da prova que usará a força de seus braços, então use-a com intensidade e preserve as pernas para as outras duas etapas que virão a seguir.
Nos últimos metros da natação geralmente é muito bom. Voce pensa, puxa já estou terminando uma etapa, além do que voce ouve, pela primeira vez as pessoas te apoiando. Não consegui ver minha esposa no meio da multidão, mas ouvi sua inconfundível voz gritando: “ - Vai amoooorrrrr...” E eu obedeci: “- Tô indo!”
Quando se esta completando, nos últimos metros da natação é recomendável que se bata as pernas um pouco mais forte, isto serve para acorda-las para trabalhar. É hora de focar no que irá fazer na transição. Um Triatlhon precisa ser feito com bom planejamento. Cada detalhe da transição precisa ser feito com precisão. Precisa-se pensar no que vai usar, comer ou beber. Tudo guardado de maneira fácil e estratégico para a próxima etapa.
Também é normal, alguns sentir tonto ao sair da agua. Já aconteceu comigo. Isto acontece porque o coração, que estava bombeando o sangue na horizontal, passa, repentinamente, a bombear na vertical, que é a nova posição do corpo. Segure-se, pois em questão de segundos tudo volta ao normal e “sebo nas canelas”.
O ciclismo.
Terminada a primeira etapa, saí para pedalar os 90 km. Conferi minhas caramanholas (garrafinhas) se estavam cheias de bebida esportiva e agua. Minha meta era consumir pelo menos 500ml de líquidos por hora de prova além de um sache de gel (GUN). Segui a risca. Aprendi algo que não se pode errar: Não deixe acabar o combustível para só depois abastecer. Mantenha o tanque cheio.
Em nenhum momento senti alguma dor ou mesmo fadigas. Sabia que se sentisse tonturas, náuseas, arrepios, poderia ser sintomas de glicemia baixa ou mesmo uma desidratação, então, cuidei em todo tempo para que isto não acontecesse. Foi perfeito!
Em cada volta eu sentia-me mais motivado, por dois motivos: Em primeiro, porque a contagem era regressiva e, em segundo, porque era maravilhoso passar em alguns pontos e ver minha família (esposa, filhas, genros e neto) e amigos gritando seu nome, motivando-o. Isto fez um grande diferencial para mim. Foi meu melhor energético. É bom demais!
Só que depois de pedalar aproximadamente 50 Km, aconteceu o previsto: deu-me muita vontade de urinar. E depois de pensar e pensar em como fazer, sobrou-me apenas uma alternativa: fazer enquanto pedalava. Fiz, só que me esqueci que as caramanholas ficavam presas abaixo do banco, onde tudo escorria (risos....). Não podia desperdiçar nada, o importante era hidratar-me (risos.....). Aliviei o pedal ao aproximar da faixa de transição, relaxando um pouco as pernas para, finalmente, partir para a ultima etapa e, talvez, a mais difícil pelo cansaço do corpo.
A reta final: Correr 21km.
Junto de meus equipamentos de corrida deixei posicionado um gel de carboidrato, uma pilula de sal e uma garrafa de Coca Cola (sem gas). Importante dizer que a composição deste refrigerante é muito boa para este momento (sódio e açúcar). Coloquei o tenis, bebi e sai para a corrida. Neste momento vi a importância de se prevenir. Vi muitos atletas “quebrarem”. Alguns, literalmente, caíram ao chão gritando de dor de caimbra. Outros pararam sem conseguir prosseguir. Naquele momento final, o mais crítico da prova, foi o que mais ultrapassei as pessoas, me sentia bem, correndo e baixando meu tempo, sentia que tudo que havia feito correto estava me beneficiando naquela hora. Sentia meu corpo correspondendo, e com isto, fui conseguindo ultrapassar uma grande quantidade de pessoas.
A linha de chegada.
Quanto faltava cerca de quatrocentos metros para a linha de chegada, ao invés de relaxar, acelerei em um grande sprint final, porque ainda tinha gás, porque estava bem. Ao enxergar a linha de chegada uma onde de alegria inundou meu ser... Pensava... “consegui... consegui”. Ali estava toda a família aplaudindo... Cruzei a linha de chegada, em grande estilo, dando um salto mesclado de alegria e vitória. Completei a prova! Estava bem, nem mesmo ofegante (5h:24min), sem dores e sem sofrimento. Me diverti! Saí dali com um grande sentimento de vitoria.
Depois de beijar toda família e cumprimentar os amigos fomos almoçar, uma refeição rica em carboidratos e proteínas acompanhada de uma boa hidratação. Ainda naquele dia, não abri mão de meus compromissos. Como sou pastor, fui ainda a dois cultos, preguei, cantei, dancei, orei, enfim, fiz tudo que precisava ou queria, sem sofrimento.
PS. - Este não é um artigo técnico, trata-se apenas de um depoimento pessoal de alguém que em um ano e meio perdeu 17 kilos e se tornou um triatleta feliz.