terça-feira, 14 de junho de 2016

EM BUSCA DO DESCONHECIDO

Um dia desses tirei uma tarde inteira para organizar os livros nas prateleiras, abrir e fechar caixas e mais caixas de velharias esquecidas, até então, uma tarde bem cansativa. Cansativa porém saudosa. 
Encontrei, em uma velha caixa, negativos de filmes fotográficos, sim, daqueles mesmos de 12, 24 ou 36 poses, e os coloquei contra a luz e meu peito apertou imediatamente. Eram recordações de uma viagem que fiz com família e amigos em janeiro de 2004 para a sempre João Pessoa, talvez a melhor viagem que fiz até aqui. Inesquecível. Revirando mais algumas outras caixas, cobertas de poeira, encontrei um punhado de cadernos e agendas, também antigos, da época do ensino médio. Mais e mais lembranças. Em uma dessas agendas havia uma espécie de relato de uma paixão; na época estava apaixonada por um rapaz lindo e muito popular, e eu, uma mocinha magrela, feinha e muito desajeitada, na melhor das hipóteses, me achavam engraçada. Minhas chances diante daquela paixão eram mínimas, ouso dizer que era zero. Passou. Sorri com o relato, mas tive saudade daqueles meses, talvez mais de ano de um amor platônico que me impulsionava a ir além do que eu pensava que podia. O amor tem dessas coisas, mesmo quando não correspondido. Folheando mais algumas páginas, marcações de aniversários, meu batismo, coisas de trabalho, e por aí vai... Quantas lembranças!
O texto de hoje não é sobre nostalgia, também não é sobre lembranças de um passado às vezes distante, mas sobre os caminhos que trilhamos, mesmo quando não fazemos ideia para onde estamos indo. Sobre os planos que fazemos e nem sempre levamos adiante. Na realidade, é sobre tudo o que passamos nessa vida enquanto seguimos em busca do desconhecido.
Nascemos, crescemos, vamos à escola, pegamos gosto por algum tipo de esporte, ou, por um certo garoto ou garota, música, dança ou outro tipo de arte; crescemos mais e somos obrigados (ou não) a encarar algum tipo de trabalho, continuamos estudando, nos formamos (ou não também) e caímos no mundo. Cair no mundo pode ter vários sentidos, pode estar relacionado a algum tipo de luta por sobrevivência, encarar sozinho um trabalho e um futuro; quando caímos no mundo podemos encontrar alguém para dividir a vida, ou não; podemos dar muito certo em uma carreira, ou não; podemos ser felizes, ou não. 
Quando caímos no mundo, podemos fazer várias escolhas erradas, e mesmo assim sobreviver. Podemos escolher o curso errado e sobreviver; a carreira errada, e sobreviver; o apartamento errado, e sobreviver; o amor errado, e sobreviver; 
A verdade é que estamos em busca do desconhecido, e cair no mundo pode ser uma grande aventura às cegas. É verdade também que não entramos em alguma disputa para perder, uma guerra para ser derrotado, uma batalha para apanhar até dizer chega. Tudo isso é desconhecido para nós, até acontecer. 
Seria tão mais fácil se a vida tivesse um manual de instruções, mas não vem, e mais que isso, nunca nos garantiram que a vida aqui embaixo desse grande mar de nuvens seria fácil, e não é. 
Diante desse deserto de incertezas, dessa estrada que nos leva ao desconhecido, nos resta passar por todas as etapas da melhor forma, sendo felizes e fazendo todos felizes à nossa volta, na medida que nos é possível. Tudo passa tão rápido e perdemos tanto do nosso tempo nos chateando e chateando a outros também, tentando nos justificar diante dos nossos erros e escolhas, e por aí vai. 
Chega o momento em que precisamos seguir em frente, mas para isso é preciso deixar algumas coisas para trás. E tendo que deixar algumas para trás, fica o meu conselho, que inclusive já falei em outras ocasiões, volto a dizer: saia sempre pela porta da frente. Faça da sua passagem na vida das pessoas e em determinados lugares, na pior das hipóteses, agradável. Talvez um dia você precise abraçar novamente e cruzar por aquelas portas pelas quais um dia teve que sair. Saia sempre pela porta da frente. Isso também é um grande legado.

Seja feliz, em tudo! 

Beeejo! 

sábado, 4 de junho de 2016

SAUDADE

Saudade Dói...
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua,dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando em um ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido às aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald’s;
se ele continua amando;
se ela continua a Chorar até nas comédias.
Saudade é realmente não saber!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais longos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso…
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler…
Martha Medeiros