terça-feira, 25 de outubro de 2011

Saudade dói...

Um excelente texto, que nos faz sentir muita saudade.

"Saudade dói, por Miguel Falabela.

Trancar o dedo numa porta dói. Bater o queixo no chão dói. Dói torcer o tornozelo também.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade...
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade de um filho que estuda fora. 
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. 
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber. 
Não saber se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Sem saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada.
Se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na internet e encontrar a página do Diário Oficial;
Se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
Se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua preferindo suco;
Se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
Se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
Se ele continua cantando tão bem. 
Se ela continua detestando o MCdonald's;
Se ele continua amando;
Se ela continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e meso assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo, e o que você, provavelmente, está sentindo agora que acabou de ler. . ."

E aí, sentiu saudade? rsrs
Soninha Nobre

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Os homens e uma história

Ela era loira, magra, e uma boa altura para uma mulher; linda, meiga e a mais velha das mulheres de uma família de 10 filhos. Ele, moreno tipo colombiano, muito bonito, gêmeo, e de uma família bem grande também. Sertanejos bem humildes e cheios de sonhos. Ela, Maria, ele, Sebastião. Ambos deixaram suas casas para se casarem; era 15 de Setembro de 1972 e ali começou uma grande história. 
Longe de ser um conto de fadas, tudo começou com muita simplicidade e dificuldades também. Mesmo casados continuaram vivendo no Sertão da Paraíba, lá onde estavam fincadas as suas raízes. Maria, filha de Maria do Carmo e Expedito Nobre, Sebastião, filho do Velho Miro e de Maria. Os deixaram pra viver uma vida, nada fácil, mas afim de edificar um lar e escreverem juntos uma história.
O Patriarca Expedito Nobre deixa o Sertão Paraibano com Maria do Carmo e os filhos e vai viver em Brasília, em busca de uma vida melhor. Lá, as portas foram abertas e oportunidades criadas pra manter os filhos com mais dignidade. Ele deixou lá no Sertão, Maria, Sebastião e já alguns filhos. Se para eles, a vida já era difícil na companhia dos seus pais e irmãos, imagine longe deles. Foi assim para Maria.
Ela, mulher guerreira e batalhadora, criando os filhos praticamente sozinha enquanto o seu companheiro Sebastião labutava dia e noite pra dar à sua prole condições de se ter uma vida digna. Ele, trabalhava de sol a sol, em dias de chuva, fossem eles de semana, finais de semana ou feriado. Fosse em Catolé do Rocha, João Pessoa ou Brasília. Viajava, labutava, e mesmo com a saudade imensa da mulher e filhos, não desistia de dar a eles o que eles realmente mereciam.
Os dois tiveram 6 filhos, as meninas Sandra, Sêmia, Sê, Soninha e Susi e um único menino, Paulo Sérgio. Mais tarde, viria mais uma, Marta. Paulo Sérgio, é o terceiro homem dessa história. Um menininho que cresceu em meio a tantas mulheres, com o caráter e coração sendo moldados a partir daí. Todas crianças, com diferença bem pequena de idade, não era fácil para Maria criar sozinha essas crianças. As coisas foram ficando mais difíceis, e a saudade apertando. Até que o velho Expedito Nobre não aguenta a saudade e volta ao Sertão, em viagem, para rever a filha e os netos. Leva presente para os netinhos, e mata parte daquela saudade que castigava a todos naquela época. Sebastião continuava trabalhando arduamente. Ele não parava.
Expedito não gostou do que viu. Dificuldades e saudades marcavam aquela família. Ele como pai, avô e amigo amável que era, decide algo que mudaria pra sempre a trajetória daquela família. Aquele homem regressa à Brasília e decide trabalhar pra trazer todos pra essa cidade que só fez bem pra ele e para os seus. 
Consegue um emprego digno para Sebastião e o traz para que juntos pudessem trabalhar e levar todos para também viverem lá. 
Ele fez bem mais que isso. Conseguiu não só o trabalho para Sebastião, mas a casa para Maria, uma cama para cada uma das crianças, móveis para toda a casa, e a companhia inigualável de Maria do Carmo, mãe de Maria, e os demais daquela família Nobre. 
Meses depois, Expedito envia as passagens e Maria viaja com as crianças, trazendo apenas as roupas e poucos pertences. Viagem difícil, mas a vontade de chegar logo e rever quem muito se amava falava mais alto, e uma viagem quer deveria durar dois dias, parecia uma eternidade, tamanha a ansiedade. 
Era Agosto de 1984 quando, pela primeira vez na vida, Maria e as criança pisaram os pés em Brasília, lugar onde havia promessa para eles. Ali, cercados de generosidade e cuidado de Deus, eles mudaram de vida, em vários aspectos. O que não mudou foi o coração grato e a fé em Deus. 
O que nenhum dos personagens desta história sabia, é que eles estavam prestes a se tornarem essenciais e marcantes, um na vida do outro.
Expedito Nobre, o maior de todos os homens desta história, foi pai, avô, amigo, ajudador, leal, de caráter incontestável, e acima de tudo generoso e amável.
Sebastião, o que suou, deu amor, e labutou todos os dias em que teve saúde e disposição, para dar aos filhos e mulher o que nem ele tinha condições de dar. Força e honra.
Paulo Sérgio, o menino que cresceu, cuidou das irmãzinhas e da sua mãe como um homem de verdade, e hoje, tornou-se um pai, esposo e irmão irrepreensível. 
Esta é um pouco da nossa história, e esses são os homens dela, sem os quais eu não seria eu, e sem tais exemplos, eu não teria sequer o que escrever!


Soninha Nobre