domingo, 22 de fevereiro de 2015

NÃO SE ATREVA A MEDIR A DOR DE NINGUÉM






Hoje se tornou algo muito comum, pessoas se acharem no direito de deduzir o tamanho da dor das outras. Tentei fazer um balanço das diversas situações que trazem dor, e não tive sucesso, justamente por existirem situações que, para mim, não trariam a tal dor, já a outros, poderiam trazer e talvez em grande proporção.
A verdade é como injeção, dor de dente, enxaqueca, um corte profundo... dói mais quando é na gente. 
Não há como saber o tamanho da dor de ninguém, pode-se até imaginar, principalmente se já passamos por situações semelhantes às que elas passam hoje, mas dor é muito pessoal, depende da intensidade da pessoa, da doação, da importância que se dá às pequenas coisas, depende do nível de solidão, do nível de proximidade... Da grandeza do sentimento, seja lá por quem ou pelo que. 
Dor é dor e dói em variadas proporções. Ponto final. 
Não, vamos tirar o ponto final e prolongar um pouco o assunto, afinal, já mediram tanto a minha dor e a de tanta gente, que quero entender melhor o tipo que instrumento que se usam para fazê-lo. Algumas dores são muito pessoais, outras nunca senti, mas pelo fato de algumas pessoas que amo sentirem em algum momento, se tornaram minhas também, afinal, a dor de ver a dor também dói.
Dói dor física, a bendita enxaqueca, pedra no rim, dor de estômago, a dor de um osso quebrado, um corte de faca, uma queimadura, deslocar um maxilar, dói até uma depilação... Dentre inúmeras outras.
Dói dor de perder alguém para a eternidade, e esta, não experimentei pior até hoje. Dói nunca mais saber, ter notícias, sentir o cheiro, ouvir a voz, e pior, dói nunca mais abraçar. 
Dói a frustração, a decepção, traição. Dói amar demais e não ter amor, dói amar quem não se deve, dói esperar e nunca ter, dói querer e não poder, dói estudar e não passar, dói a partida, dói a despedida, dói a ausência e dói a solidão.
Há dor de todos os formatos e proporções.
Mas dor mesmo é dor que a gente sente. Tentar se colocar no lugar do outro e tentar entender como ele se sente, é super válido e recomendo, mas isso jamais vai poder te fazer sentir realmente como ela se sente, mesmo que você tenha passado por algo semelhante um dia. Dor depende de como a pessoa é por dentro, das marcas que ela já tem e do que já passou na vida. 
Volto a dizer, dói mais quando é na gente.
Minha irmã caçula, na época com 1 ano e 6 meses de vida, teve queimaduras de 1º e 2º graus, tão pequena e frágil, e por um descuido uma panela de água fervente caiu sobre seu braço. Lembro claramente o desespero da minha mãe, a nossa agonia, de presenciar aquela terrível cena. Doeu na minha mãe, no meu pai, doeu em cada um de nós mas sem dúvida alguma, doeu mais nela.
É justo tentar medir a dor de alguém? Não, não é. 
Não é justo tentar julgar em uma família que perdeu o cabeça, marido e pai, quem sofre mais. É a esposa? Ou será o filho que era mais próximo? Será o outro filho que não tinha tanto contato? Ou o neto que cresceu ouvindo suas histórias? Não há como medir. É injusto. É desonesto. É cruel.
Ninguém é igual a ninguém, e a dor não escolhe os mais fortes, ou os mais fracos, ela vem sem avisar, abraça de surpresa, e, em alguns casos, não solta tão fácil.
Seria tão bom curar a dor de alguém e a nossa dor também.
Para a dor física, há o analgésico, já outras, nada faz passar, nem o tempo, nada. O tempo nunca curou nada, o tempo é só um paliativo.
Então, já que a dor tem que doer, não se atreva a piorá-la medindo a de ninguém!

Mais amor, respeito e tolerância, por favor!

Beeejo!